domingo, julho 04, 2004

Quando eu imitava Fernando Pessoa

INTERSECÇÃO


As pessoas viviam
Do lado de cá da janela.
Aqui deste lado o tempo parou.
As aranhas, pacientes, tricotam as teias
O pó, suavemente, pousou sobre tudo
As pessoas, alheadas, ficaram na janela


Havia um relógio que marcava o tempo
Naquele silêncio
Também houve em tempos
Uma criança a rir.

Agora é nada, só névoa
As teias enredam os pensamentos, lentos
Lá fora a luz é viva, o sol é quente
Jactos de luz atravessam a vidraça
E acendem infinitas partículas de pó

No chão o arco-íris
No ar o vazio do tempo
E lá fora barulho, buzinas, vida
Como se aqui o relógio nunca tivesse parado

Ah! Como sinto a falta da minha infância
Do tempo feliz em que atravessava a janela.