terça-feira, março 30, 2021

Uma árvore


Ofereceram-me uma árvore

À falta de um filho

Deram-me esta imortalidade

Mas o que fazer com ela

Se não tenho chão?


Há um jardim aqui ao lado

É de cimento branco

Branca a aridez

Branco o brilho

Branca a solidão

Dos cegos de Saramago


Avenidas e ruas

Permanecem vazias

De todos os lugares no mundo

Não existe nenhum onde brote vida

Apenas tempo infindo e lento

E um medo difuso

Que nos faz escolher a sombra

Quando escapamos do cativeiro


Mas nunca escapamos

Essa é a verdade que vai sobrar

Depois de nos dizerem

Podes ir


Nunca mais os dias

Voltarão à inocência

Do tempo em que éramos invencíveis

Deram-me uma árvore

E agora não há mais jardins

                                        

Foto de Luís Miguel Duarte

(@luismjjduarte)