Ofereceram-me uma árvore
À falta de um filho
Deram-me esta imortalidade
Mas o que fazer com ela
Se não tenho chão?
Há um jardim aqui ao lado
É de cimento branco
Branca a aridez
Branco o brilho
Branca a solidão
Dos cegos de Saramago
Avenidas e ruas
Permanecem vazias
De todos os lugares no mundo
Não existe nenhum onde brote vida
Apenas tempo infindo e lento
E um medo difuso
Que nos faz escolher a sombra
Quando escapamos do cativeiro
Mas nunca escapamos
Essa é a verdade que vai sobrar
Depois de nos dizerem
Podes ir
Nunca mais os dias
Voltarão à inocência
Do tempo em que éramos invencíveis
Deram-me uma árvore
E agora não há mais jardins
Foto de Luís Miguel Duarte
(@luismjjduarte)