terça-feira, abril 30, 2019

Saudade


















Tenho tanto frio mãe
Tem estado umas noites de vento
 Como quando morávamos naquela casa
Tenho tido medo

Tinham-me dito que a saudade era assim
Que nunca passava e não passa
Aparece-me de surpresa
No cheiro dos pinheiros
No calor morno de Outono

Digo isto e já nem há Outono
Não há estações não há nada
Mas há dias com uma luz uma cor
 Uma coisa indefinida
Nesses dias eu regresso

Eram dias tão calmos na vila pequena
Eu acreditava em toda a espécie de inatingíveis

Aprendi a viver com este coração
Alcancei a leveza de saber
Vou carregar sempre algumas dores
Dores que o tempo não esbate
Os grandes abalos de alma

Perdi o meu filho
Tu foste embora
Perdi a ilusão de alguns afectos
Perdi o sítio para onde voltava
A casa as escadas as janelas
Peguei nos móveis e levei para outros sítios
Está tudo disperso tenho uma casa em tantos lugares

Tenho um coração que me abriga
Digo e repito mil vezes
Sigo-o até ao fim do mundo

De tanta gente ficou tão pouca
E curiosamente tornei-me tão leve
Que sou feliz


terça-feira, abril 23, 2019

Sobre Antonin Artaud

Era miúdo e andava a tentar pôr ordem numa carta dirigida não sei a quem nem com que propósito. O mais natural era que fosse algum pedido de desculpas. Nos rascunhos que se acumulavam ao tentar explicar-me na língua do arrependimento, as letras bem largas não se liam melhor, em boa parte porque a caneta que me veio à mão primeiro era vermelha. Ao dar a carta a ler a um adulto, fui obrigado a passá-la a limpo mais uma vez depois de me ter dito que escrever a vermelho é como mandar o destinatário à merda...


Diogo Vaz Pinto in Ionline, edição de 15/04/2019

segunda-feira, abril 08, 2019

Do obscurantismo


Onde quer que se queimem livros, mais cedo ou mais tarde hão-de queimar-se também seres humanos - Heinrich Heine

Padres polacos queimam livros da saga Harry Potter




quarta-feira, abril 03, 2019

Ainda há surpresas

O Ministério da Cultura de Espanha e a Polícia Nacional do país vizinho apresentaram esta terça-feira em Madrid uma folha manuscrita restaurada do Livro da Montaria, redigido no século XV, na corte de D. João I de Portugal...ler mais