terça-feira, abril 23, 2019

Sobre Antonin Artaud

Era miúdo e andava a tentar pôr ordem numa carta dirigida não sei a quem nem com que propósito. O mais natural era que fosse algum pedido de desculpas. Nos rascunhos que se acumulavam ao tentar explicar-me na língua do arrependimento, as letras bem largas não se liam melhor, em boa parte porque a caneta que me veio à mão primeiro era vermelha. Ao dar a carta a ler a um adulto, fui obrigado a passá-la a limpo mais uma vez depois de me ter dito que escrever a vermelho é como mandar o destinatário à merda...


Diogo Vaz Pinto in Ionline, edição de 15/04/2019