Era miúdo e andava a tentar pôr ordem numa carta dirigida
não sei a quem nem com que propósito. O mais natural era que fosse algum pedido
de desculpas. Nos rascunhos que se acumulavam ao tentar explicar-me na língua
do arrependimento, as letras bem largas não se liam melhor, em boa parte porque
a caneta que me veio à mão primeiro era vermelha. Ao dar a carta a ler a um
adulto, fui obrigado a passá-la a limpo mais uma vez depois de me ter dito que
escrever a vermelho é como mandar o destinatário à merda...
Diogo Vaz Pinto in Ionline, edição de 15/04/2019