sexta-feira, abril 22, 2022

Do lápis azul aos cravos vermelhos

 

 

No próximo dia 25 de abril, celebraremos 48 anos da Revolução.

Após quatro décadas a viver sob um regime ditatorial, num país fechado ao mundo, sem liberdade de expressão, com um alto índice de analfabetismo e pessoas a viver na pobreza, em 25 de abril de 1974, iniciamos um regime democrático com uma incrível revolução, onde os soldados usavam cravos vermelhos nas suas armas. 

 Ainda há muita discussão sobre a Revolução e sobre quem tem o direito de celebrá-la. Esta não é uma posição política, uma declaração de direita ou de esquerda – eu apenas sei como meus pais viveram durante esses anos e como eu vivo agora. 

 Mas, hoje é para falar dos escritores e dos músicos daquela época. O regime tinha uma polícia de censura e os artistas tinham que ter muito cuidado com as suas mensagens – qualquer mensagem contra o governo poderia significar prisão, exílio ou fim de carreira. 

 O "lápis azul" - a cor do lápis com que os censores riscavam a parte censurada de um texto - era conhecido de todos e centenas de obras foram banidas. 

Havia uma lista de escritores proibidos que incluía Herberto Hélder, Miguel Torga, Natália Correia, Alves Redol, Aquilino Ribeiro, Vergílio Ferreira, entre outros. Até o escritor brasileiro Jorge Amado e o existencialista Jean-Paul Sartre eram leituras proibidas em Portugal. 

Consegue imaginar isto? As pessoas podiam ir para a cadeia por causa dos livros ou da música que tinham em casa. 

Enfim, esses tempos difíceis estimularam muito a imaginação e a criatividade dos artistas para transmitirem a sua mensagem e evitarem o famoso lápis, ou pior ainda. Por isso, os criativos usavam subtilezas para escapar à vigilância da polícia política. Esta era a sua maneira de resistir. 

 Assim, herdamos os textos mais belos e criativos da nossa literatura e arte desse período sombrio de nossa História. Recomendo fortemente a leitura desses autores.