terça-feira, março 21, 2023

Perguntas

 


Dás-me licença

De entrar na tua vida

E pendurar na parede da tua sala

A minha janela?

Posso desarrumar tudo

Tirar os sapatos

E estender-me no teu mundo ?

Espalhar nos teus minutos

Toda as dúvidas

Que trago comigo ?

Passear descalça pelo

Corredor das tuas certezas?

Desfazer a tua cama

e dormir atravessada nos teus sonhos?

Posso entrar e sair de casa

Dás-me a chave

E não me marcas horas?


Posso voar?


Pode ler textos sobre Línguas, Escrita, Tradução, no meu blog FAZT.

 


sexta-feira, março 17, 2023

Para onde voaram todos os pássaros?


Vi o calendário e a primavera já começou

Não vejo as andorinhas à volta do telhado

Conto as janelas e são as mesmas cinco

Cinco retângulos de vidro uma varanda pequena

O sótão dos meus medos em ardósia preta

 

Um dia o poeta disse-me para fugir dali

Eu fugi tanto só trouxe comigo a minha alma

Ele disse isso porque eu disse osmose

Palavra proibida na boca de uma criança

Ele disse fuja e eu fugi

 

Deixei tudo até a chave da porta

Os livros do meu pai os seus escritos

A letra desenhada em cadernos deve haver

Trouxe só um poema isso trouxe

Tudo o resto ficou debaixo dos escombros


As roupas de baile das tias do Brasil

As lantejoulas os espartilhos os saltos prego

Os saiotes brancos de renda inglesa

As minhas bonecas com os dedos roídos

O caderno vermelho com os poemas

 

Eu era assim uma espécie de solidão e encantamento

Eu brincava comigo à volta de uma árvore

Eu brincava comigo no rio a perseguir um jornal ao vento

Eu brincava comigo a dançar Giselle

Eu dançava com o Nureyev com o Baryshnikov

 

Todos me diziam que era órfã e era

Olhavam-me de cima e pensavam que pena

Eu olhava escondida atrás do cabelo

 

Procurava duendes debaixo das cascas das árvores

Olhava as nuvens e esperava um anjo em cada raio de sol

Estudava astronomia sem saber matemática

Escrevia poemas e imitava Feijó

Cesariny Pessoa Porto-Além Espanca

 

Fazia votos silenciosos para gostarem de mim

Alguns não gostavam eu era esquerda

Levava ramos de flores como bandeiras brancas

Sonhava com uma alma limpa

Apesar de escrever com a mão sinistra

 

Hoje sou assim uma refugiada

Esquerda na vida como Drummond

Deixei tudo e trouxe esta alma


Se gosta de assuntos relacionados com a linguística, visite o blogue da minha página profissional. Por lá, escrevo coisas mais pragmáticas. 

terça-feira, janeiro 24, 2023

A viagem

 

As nahuas e maias consideravam o cão de raça xoloitzcuintle como um animal sagrado. Relacionavam-no com Xolotl, o deus do pôr-do-sol, da transformação. Representavam-no com corpo de homem e rosto de cão.

Existe até uma lenda que diz que essa divindade fez do cão um presente para os homens - o cão tem um toque divino e recebeu uma missão extraordinária: acompanhar os humanos no trânsito entre vida e morte.

Fonte: https://fahrenheitmagazine.com/

segunda-feira, dezembro 19, 2022

A noite mais longa do ano

 


Nesta altura do ano alguns têm as celebrações próprias das suas crenças e muitos celebram o fim de um ciclo e o início de outro.

Hoje, o que todos temos em comum é esta sensação de fragilidade perante fatores que não controlamos. A natureza tem-se mostrado poderosa e inclemente em muitos lugares. O que temos visto recorda-nos quão pequenos somos na imensidão do universo.

Assistimos, impotentes, a acontecimentos que destroem a vida de milhares de pessoas. As medidas que devemos tomar para minimizar estas catástrofes não têm resultados imediatos e miraculosos que nos possam salvar das inconsciências que cometemos.

O que nos salva é a esperança. Esta esperança já era celebrada pelos nossos antepassados. As suas celebrações têm elementos bonitos e mágicos que aconchegam a alma.

Entre rituais variados há um fator que é comum: estamos melhor quando nos unimos, quando juntos tentamos melhorar os dias e trazer-lhes luz e solidariedade.

Gosto de recordar que este espírito é antigo e que esta época de celebrações coincide com o que foi em tempos uma festa pagã - as celebrações do solstício de Inverno.

Na noite de 21 de dezembro, noite mais longa do ano, os antigos celebravam a natureza, faziam oferendas aos deuses, decoravam as casas com ramos verdes, faziam grandes fogueiras e junto com a família pediam que o Inverno passasse depressa.

Desejo esta luz, e este calor ilumine os próximos tempos e nos traga paz, saúde e felicidade.

Bom ano 2023 para todos.

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