Este poema é de uma altura, por volta de 1995, em que eu tive um desânimo imenso de viver ( vulgarmente designado por depressão ).
Dizem que nestas se alturas se escrevem as coisas mais bonitas. Concordo, mas acrescento que se escrevem coisas muito sofridas e, ainda hoje, me lembro exactamente do que sentia quando escrevi este poema.
De certa forma, a "dúvida indefinível" permanece até hoje.
PERTURBAÇÃO
Na confusão de ser eu
Ou não ser nem ficar
na dúvida indefinível
de querer o infinito
ou deixar correr o rio
da rua onde nasci.
Não sei a que horas
Tocou o despertador
Mas agora é tarde
E a chuva e o vento
Destruíram tudo o que era meu.
Talvez amanhã não seja assim
Talvez a dúvida e o vento
Se vão embora pelo corredor
E então eu, feliz, fecharei a janela.