E termina aqui a história da feira. Uma daquelas memórias que eu queria registar.
Estas recordações, que sempre farei questão de registar para que as pessoas nunca esqueçam que já vivemos assim, fazem-me pensar que, no meio de todas as dificuldades materiais que nenhuma criança de agora pode sequer imaginar, eu fui uma menina muito feliz. Paradoxalmente, eu fui uma menina muito rica e hoje sinto-me uma adulta multi-milionária. Tive a honra e o privilégio de ter vivido numa época de transição. Vivi no passado ( mesmo que através das histórias da minha mãe ) e vivo hoje na era da internet, do consumismo, de alguma maneira do Big Brother de George Orwell.
Sou multi-milionária, porque, embora me deixe embebedar por este ambiente que nada tem a ver com o meu dia de feira, eu ainda saboreio dentro de mim as pequenas coisas do dia a dia com o mesmo prazer e a mesma sensação de privilégio com que saboreava aquela limonada do cântaro preto do homem da feira.