segunda-feira, agosto 09, 2004

Dia de Feira IV


Também era uso naquele tempo levar as filhas à feira para as ensinar a “ marralhar “, que era aquele teatro todo até fechar o negócio.

Das minha irmãs, uma aprendeu bem a lição, a outra queixa-se até hoje de que a mãe não a ensinou suficientemente bem e gostaria de ser mais competente nessa arte.

Eu já sou fruto dos tempos de transição e o meu feitio não me permite muito fazer isso : se achar que o preço é justo, compro; se achar que é injusto, viro as costas e vou embora. Sou uma desilusão para esses vendedores antigos.

Acontece, contudo, uma coisa muito bonita: acho que herdei a aura da minha mãe e tenda onde eu vá e comece a procurar qualquer coisa para comprar, fica cheia de gente, as ciganas começam a gritar aproveitando o movimento e, de repente, um sitio que estava às moscas transforma-se no espaço mais concorrido do areal.

Eu sei que dou sorte. As pessoas mais velhas sentem isso e já me aconteceu fazerem-me festinhas na cara como se eu fosse uma menina. Sentem que é por bem e que qualquer compra que faça, para eles eu desejo o melhor e tudo corre pelo melhor.

Hoje está dia de sol, como todos os dias de feira de que me lembro. Antigamente, o sol deveria ser tão quente que me recordo de morrer de calor no areal. Também nesses tempos antigos havia um “ serviço “ para esse efeito que era o vendedor de água com rodelas de limão.

Eu quero escrever isto para nunca me esquecer e para que quem viveu esse tempo também nunca esqueça.

Era um homem com um cântaro de barro preto que carregava no ombro. Tinha um pregão qualquer, mas disso já não me lembro. Segundo a mãe, era “ limonada fresca, quem mais quer beber “. Se alguém quisesse, eles tinham um concha tipo colher de tirar sopa e serviam uma “ malga “ de limonada fresquinha. Eu queria sempre, mas nem sempre os centavos que tínhamos davam para tal extravagância. Mas quando davam! Que bom!( Isto hoje seria uma calamidade: toda a gente bebia da mesma tigela ! ).

Será que os meninos de agora saboreiam com aquele prazer as fantas e coca colas que os pais lhes dão no Mac Donald’s ?