quinta-feira, agosto 05, 2004

Dia de Feira I


Dia de feira na vila mais antiga de Portugal.

No dia de feira quem atravessar a ponte nova tem uma visão única: a avenida dos plátanos, as casinhas ( que dentro têm a velha muralha ) todas alinhadas, e ao fundo a ponte românica com os seus arcos muito direitos como se fosse um desenho. No meio deste contexto, o areal está coberto de telhadinhos beges, montes de telhadinhos beges em tecido, que são as tendas dos vendedores. Não se vê um metro de areia.

Imagino que as ruas da vila estão cheias de gente. A nossa feira ainda tem qualquer coisa do passado. É um dia muito importante na nossa região. Vêm as raparigas com o seu ar de Shakiras, último grito da moda, como vêem na televisão, para conhecerem os rapazes que folgam à 2ª feira e passam o dia a passear por ali para as verem e lhes falarem.

Com este sinal dos tempos coexiste o passado.

Vêm também os homens das aldeias, com os seus fatos com colete e chapéu, faça sol ou faça chuva. Nunca entendi como aguentam aquela roupa toda quando está calor.( Mas este fenómeno não é exclusivo do Norte: em Aljezur - Costa Vicentina -, em pleno Agosto, as pessoas de idade usam fato completo e camisolas de lã ). As mulheres põe o seu melhor avental e algumas já fazem a concessão de usar desajeitadamente uma carteira ao ombro. E todos vêm à feira da vila que já dura há uns bons séculos. Já existia antes de D. Teresa nos ter dado o foral, antes de 1125!

É um dia muito alegre o dia de feira. Aliás, a palavra feira tem a sua origem no latim e queria dizer precisamente festa. É curioso que nós, os portugueses somos sempre os diferentes. Nenhum povo marca os dias da semana como nós. Todos os outros ( pelo menos das línguas que conheço ) dão a cada dia da semana o nome de um planeta ou de uma estrela. A nossa segunda feira, para eles é o dia da lua ( “ Moon day” , Lunes , Lundi ). Para nós e a segunda festa. A primeira e mais importante é o domingo, o dia do sol.

Tínhamos obrigação de ser menos melancólicos, nós os portugueses: temos 5 festas, só no sábado e domingo é que somos iguais aos outros. Claro que isto nada tem a ver com alegria, mas sim com religião, pelo que me explicaram. As ditas festas são os dias dos santos católicos, porque cada dia tem o seu santo. Os outros povos ficaram no paganismo e ainda “ festejam “ os planetas e as estrelas. Não vejo nenhum mal nisso, só fico aflita em Espanha, pois para saber de que dia estamos a falar, tenho sempre que fazer o paralelismo com o francês. Viernes ? Lundi, Mardi, Mercredi, Jeudi, Vendredi! Sim, vendredi, sexta feira. Percebi. Espero com isto não contribuir muito para a fama que os portugueses têm em Espanha de serem um tanto ou quanto bizarros.