segunda-feira, fevereiro 28, 2005

O Brilho


O brilho está nos olhos mas donde vem?
Talvez do orvalho nas folhas das árvores
Ou das asas húmidas dos pássaros pela manhã

A névoa está nos olhos mas donde vem?
Talvez das lágrimas presas em jaulas de força
Ou da bruma dos bosques por onde me perco

E em cada amanhecer o nevoeiro aclara-se
E passo a passo caminho descalça pelo trilho

Nas pedras nas folhas esmagadas no frio da madrugada

Caminho em silêncio para a clareira
E vejo ao fundo a luz na floresta
E vejo ao fundo a luz em mim.




De Maat :

inclino-me
à luz
que trago das aves

desde
o
céu que vêm comigo

a manhã inicia-me em seu voo
um antigo voo
nele mil vezes morri
mil vezes sem uma palavra na boca
sem uma estrela para iluminar o rosto
ou uma pedra para inclinar o ouvido
e sentir o sangue quente
da amada terra


apenas
o vazio quebrado em seus múltiplos espelhos
em sons quase imperceptíveis
quase alados
quase névoa

só perfume e feridas


andei toda a noite em viagem toda a noite

não encontrei senão o vestido branco
da minha sombra



Foto de João Coutinho