O brilho está nos olhos mas donde vem?
Talvez do orvalho nas folhas das árvores
Ou das asas húmidas dos pássaros pela manhã
A névoa está nos olhos mas donde vem?
Talvez das lágrimas presas em jaulas de força
Ou da bruma dos bosques por onde me perco
E em cada amanhecer o nevoeiro aclara-se
E passo a passo caminho descalça pelo trilho
Nas pedras nas folhas esmagadas no frio da madrugada
Caminho em silêncio para a clareira
E vejo ao fundo a luz na floresta
E vejo ao fundo a luz em mim.
De Maat :
inclino-me
à luz
que trago das aves
desde
o
céu que vêm comigo
a manhã inicia-me em seu voo
um antigo voo
nele mil vezes morri
mil vezes sem uma palavra na boca
sem uma estrela para iluminar o rosto
ou uma pedra para inclinar o ouvido
e sentir o sangue quente
da amada terra
apenas
o vazio quebrado em seus múltiplos espelhos
em sons quase imperceptíveis
quase alados
quase névoa
só perfume e feridas
andei toda a noite em viagem toda a noite
não encontrei senão o vestido branco
da minha sombra
Foto de João Coutinho