segunda-feira, fevereiro 21, 2005

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Onde está a minha capa de invisibilidade?
Perdi-a algures e precisava de sair por aí
Sem que ninguém me olhasse e reparasse
Que caminho alheia focando infinitos
Quero cobrir-me de invisível
Que ninguém me veja nem repare
Que não sou de cá não conheço as ruas
Quero vaguear sozinha pelo nada
Olhar paredes portas mesas e cadeiras
E ver estrelas luzes brilho e vastidão



De Maat :

atravessa pois a casa o bosque das horas
a voz suspensa num grão de luz
não desejes nem tu possas querer nada
nem fazer perguntas às mais velozes águas
o céu e o mar são o teu lençol
a estranha porta do nada que se abre
para a solidão das aves e para os pobres

abertas são as casas as mais frágeis casas
no azul inquieto da memória ou se quiseres
a capa invisível onde acordada dormes



única e igual és nesta harpa de espinhos
o coração da lua
o sol
no búzio do ouvido


crucificada
cantas

silencioso o brilho




Foto de João Coutinho