Onde está a minha capa de invisibilidade?
Perdi-a algures e precisava de sair por aí
Sem que ninguém me olhasse e reparasse
Que caminho alheia focando infinitos
Quero cobrir-me de invisível
Que ninguém me veja nem repare
Que não sou de cá não conheço as ruas
Quero vaguear sozinha pelo nada
Olhar paredes portas mesas e cadeiras
E ver estrelas luzes brilho e vastidão
De Maat :
atravessa pois a casa o bosque das horas
a voz suspensa num grão de luz
não desejes nem tu possas querer nada
nem fazer perguntas às mais velozes águas
o céu e o mar são o teu lençol
a estranha porta do nada que se abre
para a solidão das aves e para os pobres
abertas são as casas as mais frágeis casas
no azul inquieto da memória ou se quiseres
a capa invisível onde acordada dormes
única e igual és nesta harpa de espinhos
o coração da lua
o sol
no búzio do ouvido
crucificada
cantas
silencioso o brilho
Foto de João Coutinho