quarta-feira, outubro 27, 2004

Pessoas - Álvaro Siza


Todas as cidades são a minha cidade, à qual sempre regresso. Tudo é então diferente, pois conheço que é diferente. Os olhos abrem-se à minha cidade, sou de novo um estranho maravilhado, capaz de ver: de fazer

Também tenho os meus heróis. Admiro quem é capaz de desenhar uma ponte, quem faz os cálculos de ferro e betão para que se sustente, quem a constrói.

Deslumbra-me pensar que uma construção nasce do encontro entre um momento inspirado, um papel e um lápis.

Sonho por vezes estar dentro da cabeça de um arquitecto para perceber como é que ele vê o espaço, como o perspectiva, para poder depois encaixar no meio uma nova peça que faça sentido.

Álvaro Siza espanta-me. Por uma coisa que ele sabe eu não sei. Ele conhece os movimentos da luz ao longo do dia. Conhece-os profundamente.

Então, faz janelas ou fendas por onde a luz entra e incide num dado lugar no interior, rigorosamente pensado por ele.

É o que acontece na Igreja de Marco de Canavezes, onde cada abertura nas paredes permite à luz incidir sobre o altar. De diferentes formas à medida que o dia escorre. Este detalhe faz com que o espaço se torne especial, banhado de uma luminosidade filtrada, dirigida que lhe confere misticismo, encantamento.

A perfeição nascerá então do equilíbrio entre a natureza e o atento olhar humano?