E foi assim que naquela idade fiz muitos amigos. A dançar. Conhecíamo-nos em roda nos momentos em que os pares viravam e ficávamos a dançar com um par desconhecido. Grandes amizades cujos espaços de ano para ano eram preenchidos com cartas e mais cartas. Equivalente a abrir hoje o microsft outlook era esperar naquele tempo pelo carteiro.
Mas a verdade é que o tempo e a popularidade das Festas acabaram por destruir o que as tornou conhecidas. Todavia, a roda anda para a frente e anda novamente para trás e esta descaracterização está a levar muita gente a querer retomar o que se perdeu. Não deixa de ter graça ver pessoas que viveram esse tal espírito no passado e que hoje são executivos, advogados, técnicos, barrigudos, casadíssimos a pegar novamente nas concertinas e a ter vontade de fazer a festa como deve ser. Pela parte que me toca, voltarei com gosto a recordar todos os passos e dançarei na praça com toda a alegria.
Pois bem, estamos no Sítio da Saudade. Nome que não foi escolhido por acaso. Foi a escolha de uma palavra que representa um sentimento muito nosso e que não tem tradução directa nas outras línguas. E, quando se fala de identidade nacional, eu não tenho dúvidas acerca da nossa. Para além da nostalgia tipicamente portuguesa, aqui no Minho, esta alegria também faz parte do que somos. A dança e a música reflectem um espírito vivo e festeiro que encontra uma grande afinidade na nossa vizinha Galiza. Sobre esse assunto poderei falar um dia destes.
À perspectiva da antipatia histórica entre espanhóis e portugueses, gostaria de acrescentar a relação profunda, antiga e muito próxima entre a gente do Minho e da Galiza. Ao ponto de levar os galegos mais ferrenhos da sua autonomia a afirmar que não são castelhanos, mas sim portugueses.
Foto de Rui Vale de Sousa