segunda-feira, junho 13, 2005

O voo


Levar-te à boca
Beber a água
mais funda do teu ser

Se a luz é tanta,
Como se pode morrer?


Eugénio de Andrade

.....


I

em todos os edifícios

da urbe/

ouvirei o teu centro/

como a rosa

para

abrigo/


II


há mortes que não sabem/que a morte

é um verso/ que deixa

destroços/



como um grande naufrágio



III


um pássaro

há pouco

recebia os teus versos/ em

telepáticas línguas/



chove muito

muito/



a chuva arrasta o teu nome na boca


Maat 7

.....


Passeaste em caminhos de água
Lavando a sede ao calor da alma

A sílaba que procuraste toda a manhã
Soou agora no silvo de águia
O corpo e a terra voam fundidos

Esvoaça o brilho assim de madrugada




Foto de João Coutinho