quinta-feira, maio 26, 2005

Viagem


Passei muito tempo a fazer malas. A virar silenciosamente as costas e ir embora. Cidades novas, vertigens, momentos e nada. Aprendi a chegar para partir depois. Sabia, ao entrar nas casas, que ali não era o meu lugar.

Sempre o apelo do deserto. Dos dias quentes, das alucinações. Das noites geladas e do lençol ténue de estrelas. Entregar o corpo à noite e ao silêncio.

Sabemos demasiado bem o que é o sofrimento para não reconhecermos o instante eterno quando o vivemos. Talvez não tenhamos casa. Desta vez nem trouxe nada. Não quero desfazer e fazer depois para ir embora.




Foto de João Coutinho