Regina Guimarães, quando se entusiasma ou quando levanta a
voz, não é sobre si mas sobre causas, sobre consequências de alguns pensamentos
que ela gosta de levar até à raiz. O que a torna afavelmente marginal,
ferreamente radical. Com uma inteligência de uma energia notável, combate,
denuncia a repressão e a tacanhez, e enfrenta a preguiça amiufada que as
permitem (recentemente, uma simples nota de rodapé levou à censura de toda uma
publicação pelo Teatro Municipal do Porto). Penso que ela se posiciona
deliberadamente nas margens por serem estas, maleáveis, que veiculam o
desbravamento (é difícil avançar na grande corrente sem se quebrar a espinha),
fazendo barulho quando preciso, mas obrando num discreto tom menor, recusando
comercializações e grandes produções – em editoras pequenas e artesanais, em
companhias de teatro emergentes, participando com as suas letras no rock
alternativo ou pop-cabaré, fazendo filmes experimentais ao lado de Saguenail.
In Jornal i, de 23/09/2020