sábado, abril 28, 2007

Do Baú: Vidro



Estava estilhaçada em fragmentos
Estava nas paredes sujas dos prédios na cidade
Nas valetas com papeis desfeitos e latas de coca-cola
Nos carros e no fumo negro dos canos de escape
Nas televisões em volume máximo
Nas pessoas a correr aos tropeções
Nos cães com sarna e nas crianças desabrigadas
Estava estilhaçada na dor e no ruído

Um dia uma mão dourada pegou no vidro translúcido
Que brilhava na calçada e guardou-o no coração
Então encontrei-me no silêncio e fiquei só uma



Foto de João Coutinho