Chove tanto nesta estrada. Tropeço na noite e não sei onde termina o caminho. Deixei-me lá atrás e agora fujo. Serão de ficar em casa à lareira quente, mas fugir é um lugar que se move.
Queria viver só do dia e da noite, do sol e da chuva, mas tenho que ir à bomba de gasolina encher o depósito, depois o supermercado, a lavandaria e a reunião com aquele homem com dedos curtos e gordos.
Depois os dias a dizer sim, a ver os esgares sim dos outros e a pensar em fugir lá para trás e consolar aquela menina que chora.
Escrevi isto por causa de Fernando Pessoa e de um poema de que não me lembro bem.
É para a Cristiane Urbinatti.
Foto de João Coutinho