Queria que soubesses que morei em tua casa. Andei contigo na escola primária e saí muitas vezes com os teus sapatos. Sei bem dos passos inseguros. Sei do espanto e do mundo silencioso no canto da sala. Lembro-me do fascínio pelas casas grandes e pelos segredos escondidos dentro dos armários.
Colei muitas vezes o nariz ao vidro da tua janela e pensei que também gostaria de brincar na rua. Mas tudo era demasiado longe por detrás daquela porta.
Se hoje existe um lugar onde nenhuma linguagem se fala e se nesse lugar nos encontramos inevitavelmente é porque percorremos longas distâncias lado a lado. Não diria mão na mão, porque a mão era só uma.
Foto de João Coutinho