Em minha casa a figura do Natal era o menino Jesus. Diziam-me que ele vinha pela chaminé e trazia presentes para os meninos que se portassem bem. Ficava intrigada com tal proeza : a chaminé de minha casa era enorme, alta, larga. Tinha um ar sinistro quando se olhava para ela a partir da pedra da lareira. Tudo negro. Um túnel sem fim. Difícil imaginar um menino a descer por ali.
Esforçava-me por me portar bem. Queria muito uma bicicleta. Um ano decidi que estava na hora de a ter. Era uma menina que se portava bem. Era sempre a melhor na escola. Ganhava prémios e tudo.
Então, decidi pedi-la nesse ano. Escolhi o papel mais bonito que tinha em casa e escrevi uma longa carta a explicar porque precisava tanto da bicicleta e porque a merecia.
Pousei a carta na lareira e volta e meia ia espreitar para ver se ele já a tinha vindo buscar. Um dia desapareceu de lá e fiquei radiante. Ele agora já sabia.
Esperei pelo grande dia. A bicicleta não veio. Fiquei confusa. Afinal, o que teria feito eu de errado?
Passados uns tempos descobri a carta guardada numa das gavetas da minha mãe.
Foi assim que descobri que não havia Menino Jesus. Nem Pai Natal. Que nunca ninguém me iria dar nada. E foi assim que comecei a grande luta com a vida. A da conquista dos meus sonhos.
Boas festas.
Foto de M.