segunda-feira, março 10, 2025

A escrita de poesia e o poder da linguagem

 

Fotografia a preto e branco de uma mão de pele escura segurando uma caneta, escrevendo numa página em branco de um caderno aberto. O foco é a ponta da caneta e a textura do papel.

Já alguma vez lhe ocorreu que o processo de criação de poesia é uma arte complexa e desafiante?

À primeira vista, escrever poesia pode parecer simples, mas olhando com mais atenção, percebemos a profundidade e a precisão necessárias.

Se pensarmos em alguém que escreve poesia, seguindo modelos clássicos como o soneto, percebemos que a escolha das palavras para expressar sentimentos é bastante criteriosa e sujeita a limites estruturais.

Vamos, então, explorar a complexidade da escrita de poesia, utilizando como exemplo a estrutura dos sonetos.

Harmonia Estrutural

São compostos por linhas de 10 sílabas, estruturadas ritmicamente. Cada palavra conta e deve encaixar-se perfeitamente no esquema métrico.

Forma

Seguem o pentâmetro iâmbico, com um ritmo e fluidez que exigem precisão. A forma é rígida, mas permite uma expressão rica e variada.

Mensagem

Transmitem emoções e temas complexos com profundidade. Em apenas 14 linhas, o poeta deve capturar a essência de um sentimento ou ideia.

Escolha de Palavras

São ricos em metáforas, imagens e significado. Cada palavra é escolhida cuidadosamente para evocar uma emoção ou pintar uma imagem vívida.

Emoção

Exploram emoções como o amor, a tristeza ou a saudade. O poeta deve ser capaz de tocar o coração do leitor com a sua escolha de palavras.

Equilíbrio

Equilibram a criatividade numa forma rígida. O desafio está em ser original dentro de limites estruturais bem definidos.

Por isso, a poesia requer um bom domínio da linguagem e uma compreensão profunda das palavras para inspirar sentimentos.

É isto que faz da linguagem um instrumento tão poderoso e complexo, e por isso mesmo, o toque humano é essencial e insubstituível.

 

Image by rawpixel.com on Freepick


sexta-feira, janeiro 17, 2025

Solitas, solitatis

 

A Saudade é um sentimento universal; mas, só na alma lusitana, atinge as alturas supremas da Poesia, contendo uma concepção da vida e da existência.

Pascoaes, T. (1986). Da saudade. Em A. Botelho & A.B. Teixeira (Orgs.). Filosofia da Saudade (p.124-144). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda. (Original publicado em 1952).


Habitados a tal ponto pela saudade, os portugueses renunciaram a defini-la. Da saudade fizeram uma espécie de enigma, essência do seu sentimento da existência, a ponto de a transformarem num ‘mito’. É essa mitificação de um sentimento universal que dá à estranha melancolia sem tragédia que é o seu verdadeiro conteúdo cultural, e faz dela o brasão da sensibilidade portuguesa.

Lourenço, E. (1999). Mitologia da Saudade: seguido de Portugal como destino. São Paulo: Companhia das Letras.

 

Foto de João Coutinho