Um lugar para brincar com palavras e ideias. Para partilhar. Para nunca esquecermos quem somos. O que sentimos. Para minimizar a mágoa de não podermos estar em vários sítios ao mesmo tempo. A corrida apressada da vida. A impossibilidade de conhecer tudo o que existe. A saudade já.
quarta-feira, julho 30, 2025
Era uma vez
quinta-feira, junho 05, 2025
Cais
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Sei ainda que sabor tinham os dias quando te conhecia
Guardo sempre o melhor de cada estação
No cais de embarque os comboios chegam e partem
E vou dizendo adeus a alguns rostos nas janelas
Guardo em mim sempre tudo o que me ensinam
Guardo mais que tudo o carinho com que os olhei um dia
Esqueci o que veio depois como se nunca tivesse vindo
E saí na estação que entendi ser a minha
E agora estou em casa e olho tranquila os dias
Que passam como comboios de alta velocidade
E levam e trazem sonhos e pessoas
E a vida sorri sempre sempre sempre e apesar
Imagem de wirestock em Freepick
Descrição da imagem: Fotografia a preto e branco de uma ponte ferroviária antiga, com carris enferrujados no centro que se estendem para uma área arborizada. A estrutura metálica da ponte enquadra a vista, criando uma sensação de profundidade.
segunda-feira, março 10, 2025
A escrita de poesia e o poder da linguagem
Já alguma vez lhe ocorreu que o processo de criação de
poesia é uma arte complexa e desafiante?
À primeira vista, escrever poesia pode parecer simples, mas
olhando com mais atenção, percebemos a profundidade e a precisão necessárias.
Se pensarmos em alguém que escreve poesia, seguindo modelos
clássicos como o soneto, percebemos que a escolha das palavras para expressar
sentimentos é bastante criteriosa e sujeita a limites estruturais.
Vamos, então, explorar a complexidade da escrita de poesia,
utilizando como exemplo a estrutura dos sonetos.
Harmonia Estrutural
São compostos por linhas de 10 sílabas, estruturadas
ritmicamente. Cada palavra conta e deve encaixar-se perfeitamente no esquema
métrico.
Forma
Seguem o pentâmetro iâmbico, com um ritmo e fluidez que
exigem precisão. A forma é rígida, mas permite uma expressão rica e variada.
Mensagem
Transmitem emoções e temas complexos com profundidade. Em
apenas 14 linhas, o poeta deve capturar a essência de um sentimento ou ideia.
Escolha de Palavras
São ricos em metáforas, imagens e significado. Cada palavra
é escolhida cuidadosamente para evocar uma emoção ou pintar uma imagem vívida.
Emoção
Exploram emoções como o amor, a tristeza ou a saudade. O
poeta deve ser capaz de tocar o coração do leitor com a sua escolha de
palavras.
Equilíbrio
Equilibram a criatividade numa forma rígida. O desafio está
em ser original dentro de limites estruturais bem definidos.
Por isso, a poesia requer um bom domínio da linguagem e uma
compreensão profunda das palavras para inspirar sentimentos.
É isto que faz da linguagem um instrumento tão poderoso e
complexo, e por isso mesmo, o toque humano é essencial e insubstituível.
Image by rawpixel.com
on Freepick
Descrição da Imagem: Fotografia a preto e branco de uma mão de pele escura a segurar uma caneta, a escrever numa página em branco de um caderno aberto. O foco está na ponta da caneta e na textura do papel.
sexta-feira, janeiro 17, 2025
Solitas, solitatis
A Saudade é um sentimento universal; mas, só na alma lusitana, atinge as alturas supremas da Poesia, contendo uma concepção da vida e da existência.
Pascoaes, T. (1986). Da saudade. Em A. Botelho & A.B. Teixeira (Orgs.). Filosofia da Saudade (p.124-144). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda. (Original publicado em 1952).
Habitados a tal ponto pela saudade, os portugueses renunciaram a defini-la. Da saudade fizeram uma espécie de enigma, essência do seu sentimento da existência, a ponto de a transformarem num ‘mito’. É essa mitificação de um sentimento universal que dá à estranha melancolia sem tragédia que é o seu verdadeiro conteúdo cultural, e faz dela o brasão da sensibilidade portuguesa.
Lourenço, E. (1999). Mitologia da Saudade: seguido de
Portugal como destino. São Paulo: Companhia das Letras.
Foto de João Coutinho
Descrição da imagem: Fotografia de dois barcos de madeira antigos, com suas proas rústicas visíveis, ancorados em água coberta por uma densa camada de lentilhas-d'água verde-vibrante. Uma corrente de metal enferrujada pende de um dos barcos.