sexta-feira, dezembro 26, 2008

Curiosidade



Pergunto-me se aquele homem que durante dias pôs un anúncio, com um fundo azul - no Público - a dar os bons dias à mulher com o sorriso mais bonito do mundo, com quem um dia se cruzou no aeroporto, a terá encontrado.


Foto de João Coutinho

terça-feira, dezembro 16, 2008

Mistério



Os plátanos da rua da Restauração praticamente não têm cascas. Há um homem que todos os dias se entretém a tirar as poucas que restam. Anda de volta da árvore e vai tirando uma por uma.

Há muitos anos atrás, na avenida de plátanos junto ao rio, eu fazia o mesmo. Na altura procurava duendes. Não sei porquê, entendia que moravam ali. Nunca encontrei nenhum.

O que procurará o homem da rua da Restauração?

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Abertura da época natalícia



Cada coisa no seu lugar e o Natal não é Outubro. Agora sim, parece-me que já é altura de começar a pensar nos presentes. Começar pela Salta-Folhinhas foi, sem dúvida, a melhor escolha. Sem o ruído do centro comercial. Só livros e magia. Convém dizer também que os livros e a magia vieram acompanhados pela sabedoria da Paula.

Agora, só falta ir à Praça Carlos Alberto, à Unicepe, escolher mais presentes.

Estes são indiscutívelmente dois lugares excelentes para comprar livros, pela excelente oferta e, sobretudo, pelas pessoas que dão a cara por eles.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Todas as cidades são a minha cidade*



Há pessoas que fazem coisas admiráveis. O melhor é espreitar o álbum de José Paulo Andrade, o autor desta foto.

* Álvaro Siza

quarta-feira, novembro 26, 2008

Palavras de outros



Estou dentro de paredes brancas.
Quatro paredes: a minha cela,
O frio, a solidão e o meu catre.
A luz entra sempre de noite.

Não tinha nada donde vim. Ainda não encontrei
O que tive e a cadeira não serve o meu repouso.
Ainda não há lugar no mundo onde possa sossegar de tu não seres
O vazio que persiste à minha beira.

Tenho um pequeno sonho de uma janela por abrir:
E que paisagem não seria estar feliz!


Daniel Faria in Explicação das árvores e de outros animais


Foto de João Coutinho

terça-feira, novembro 18, 2008

Exercício de ostranenia*



tropecei numa nuvem
quando saltava à corda
com um raio de sol

agora

dói-me a alma


* do russo, estranhamento


Foto de João Coutinho

terça-feira, novembro 11, 2008

Desencontros



No restaurante onde costumo almoçar há um recado na porta - escrito à mão num quadrado de papel - que diz há aqui chaves...perdidas. De cada vez que o leio pergunto-me se, tal como no filme my blueberry nights, haverá também histórias de desencontros.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Cruzamentos subliminares



Estes ‘cruzamentos subliminares’ projectam nas telas o impacto que as palavras de José Luís Peixoto, mais precisamente as da obra ‘ a casa, a escuridão’ , tiveram na pintura de Maria João Patronilho.

Este é um momento fulcral do trajecto da pintora: o lugar onde tudo se clarifica nas palavras dos outros, o instante onde tudo o que se transporta connosco muda algo na forma de exprimir. O cruzamento.

Afinal, de que somos feitos? Arriscamo-nos a responder que de todas as emoções que se gravaram subliminarmente nas nossas regiões mais subterrâneas e que foram moldando o nosso olhar.

Hoje, é este o olhar da Maria João.

E nós, como vemos este olhar? Talvez a Francisca, sua filha, tenha a resposta mais simples e precisa:

Quando estás aqui, vejo a tua arte, o teu sentido de ser, o teu vermelho e preto numa tela branca. Vejo o sol, o fogo, a chama.

sábado, novembro 01, 2008

Receita



Quando tiveres um segredo, sobe ao alto de uma montanha, procura uma árvore, faz um buraco no tronco, sopra o segredo para o buraco e tapa-o bem com lama.

Receita de Kar-Wai em In the mood for love


Foto de João Coutinho

sexta-feira, outubro 24, 2008

O melhor verso



Não há melhor verso do que calçar os sapatos, ir comprar o pão ou ver o mar crescer.

José Tolentino Mendonça nas Quintas de Leitura, no Teatro do Campo Alegre.


Foto de João Coutinho

segunda-feira, outubro 13, 2008

Então porque não voas?



A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste

A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos

A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"


Sérgio Godinho - A noite passada


Foto de João Coutinho

quinta-feira, outubro 02, 2008

O que eu sei sobre ele



Lembro-me que era muito alto e não era impressão minha: a sua figura destaca-se nas fotografias com os amigos.

Os olhos eram verdes, de um verde impressionante, muito claro, mas muito denso.

Lembro-me da figura dele. Sei muito pouco sobre ele.

Toda a vida procurei saber mais alguma coisa, mas agora a maior parte dos amigos já morreu e a minha fonte de informação vai acabar por esgotar-se. Não sei a quem perguntar mais.

Sei que gostava de pescar e de caçar. Adorava cães e chegou a ter quinze.

Dizem que tinha um senso de justiça que usava de uma forma impulsiva e tratava qualquer situação que lhe ferisse a honra ou a honra de um amigo sem qualquer medo e na hora própria.

Era respeitado e temido. Não calava as suas opiniões. Foi perseguido por isso; na altura não se podia pôr em causa a situação politica em que se vivia.

Sei que ele e um grupo de amigos viveram dias escondidos no cemitério de cá. Depois, o dono de um solar que ainda existe, cedeu-lhes os túneis para se esconderem. Estiveram lá todos durante uns tempos e ele era o cozinheiro – dizem que fazia uns belíssimos ovos estrelados. Depois fugiram para Espanha e ele acabou por ser preso.

Julgo que por ter pertencido a um milícia que expulsou os camisas negras de cá. Ele tinha uma rua só por conta dele. Foi o que me contou um amigo que entretanto morreu.

Gostava de cozinhar. Ás vezes surpreendia a minha mãe com os banquetes que lhe preparava.

Não era romântico e não sabia mostrar sentimentos. Mas escrevia poemas. Eu já tive dois - perdi-os com as mudanças de casa. Um era para o rio Lima, outro era para ela.

Adorava ler e lia tudo o que podia sobre os assuntos que lhe interessavam. De tal forma que alguns advogados o tratavam por colega e engenheiros também. Tinha a 4ª classe.

Tenho uma foto dele no meu quarto. Usava chapéu e um lencinho a aparecer no bolso do blaser. Os olhos verdes.

Ela passava os lenços dele e eu ficava de pé à espera. Quando tinha um monte grande, pegava neles quentinhos e levava-os junto à cara para lhe entregar. Ele estava sentado numa cadeira a olhar o rio pela janela. Muito ausente.

Eu ia passear com ele e levava o meu triciclo. As pernas dele davam uns passos tão grandes que eu tinha que pedalar com toda a minha energia. Era muito alto.

Sei que ele foi embora na idade do complexo de Édipo. Li algures que as crianças não entendem a morte. Lembro-me que não sabia o que era. Diz-se que as crianças entendem a morte como abandono, rejeição. Julgo que demorei a perceber que não foi isso que aconteceu e que ele não me abandonou.

Que gostou muito de mim e achava que eu tinha umas orelhas muito bonitas : pedia sempre para me fazerem totós.

O que eu sei sobre ele cabe neste texto. Há outras coisas que sei, porque as encontro em mim.

( escrito em Julho de 2004 )

terça-feira, setembro 23, 2008

Esperança



Lembrei-me de uma conversa onde afirmei que tinha ainda muito para aprender e de alguém me ter respondido “ não, tens tudo para desaprender “.

E fiquei a pensar nessa frase. Pensei que tudo quanto julgava saber não faz sentido. De quanto o sentido aparece claramente nas coisas mais simples, quando simplesmente as olhamos sem certezas.

E quando me falaram dela eu entendi o que era DESAPRENDER.

Há uns anos atrás fui ver Laurie Anderson.

Para além das coisas que já me tinham feito sorrir antes, ouvi-a falar do medo.

Dizia que só se sente medo no início, tal e qual como só se gagueja no princípio das palavras, nunca no final.

Falou da esperança, como se fosse uma prateleira de uma casa junto a uma linha de comboio: de cada vez que ele passa caiem as coisas que estão em cima e nós tratamos logo de as substituir por outras, cada vez de pior qualidade, pois sabemos que se vão partir novamente.

Pensei que é bom olhar para o mundo com ingenuidade e sem construções.

Podemos assim perceber quanto o que nos move é tão pequeno e sem sentido. Podemos ter medo. Podemos ter esperança e teremos que a construir cada vez melhor, depois de se quebrar.

quinta-feira, setembro 04, 2008

Dos relógios



...de nada vale encontrar a pessoa certa, se for antes ou depois da altura certa...

Chow em 2046 ( Wong Kar-Wai )

quinta-feira, agosto 28, 2008

A liberdade é um vício



Tenho medo que a liberdade se torne um vício.

Miguel Sousa Tavares in Rio das Flores


Foto: Caixa Forum de Herzog & de Meuron - Madrid

quarta-feira, julho 16, 2008

Notícias da cidade



O galho de uma das arvores da Circunvalação cresceu sobre a estrada e mostra agora umas enormes e aveludadas flores laranja. Parece uma acácia, mas disseram-me que só existiam em África.

No mercado Bom Sucesso compram-se flores muito bonitas e, sem que ninguém nos conheça, toda a gente fia um euro ou dois e manda 'passar quando puder'.

A freguesia de Massarelos continua em grande a sua comemoração de verão e no largo há matraquilhos para jogar à hora do almoço e ao fim da tarde uma música muito rapioqueira ( alguém dizia esta palavra, que nem sei se existe, mas que define bem aquela música ).

No Illiabum, também em Massarelos, almoça-se debaixo dos plátanos com vista para o rio. Ás quartas há figado de cebolada, feito pela receita da minha mãe ( acho eu, o sabor é tão igual ).

As Noites da Praça são boas. Ontem foi Milton Nascimento acompanhado pelo Jobim trio. A terra teve a delicadeza de não girar demasiado depressa para não tirar do meu ângulo de visão aquela lua amarela do lado direito quase atrás das minhas costas.

Hoje fazem anos duas pessoas amigas e esforçei-me para ser a primeira a dar-lhes um beijo - ainda não sei se consegui, porque o beijo foi enviado em forma de sms à meia-noite e dois minutos.

Está um dia de sol. Dentro da cidade e dentro de mim inteira.

terça-feira, julho 15, 2008

Regresso



Eu sou a que não sabe os nomes das coisas

Vou a lugares onde nada se chama
Inclino-me na terra
E suavemente escuto os corações a bater

Um dia perguntei a um velho na rua
Onde era a minha casa
Disse-me um nome que não sei pronunciar

A porta está gravada a sangue num coração

É lá que eu moro.

( Agosto de 2005 )

segunda-feira, julho 07, 2008

Obrigada



Dum loquitur, fugerit inuida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero.


Horácio, Carmina I.XI


Inesquecíveis os que se mobilizam para me dar todas as flores e todos os beijos. Não me digam que aos amigos não se agradece, eu acredito que se deve dizer-lhes sempre as coisas mais lindas que nos passem pelo coração. É que o tempo foge.


Foto de João Coutinho

sábado, junho 21, 2008

Muriel



Às vezes se te lembras procurava-te
retinha-te esgotava-te e se te não perdia
era só por haver-te já perdido ao encontrar-te
Nada no fundo tinha que dizer-te
e para ver-te verdadeiramente
e na tua visão me comprazer
indispensável era evitar ter-te
Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava
Mas hoje há os papéis há as voltas a dar
há gente à minha volta há a gravata
Misturei muitas coisas com a tua imagem
Tu és a mesma mas nem imaginas
como mudou aquele que te esperava
Tu sabes como era se soubesses como é
Numa vida tão curta mudei tanto
que é com certo espanto que no espelho da manhã
distraído diviso a cara que me resta
depois de tudo quanto o tempo me levou
Eu tinha uma cidade tinha o nome de madrid
havia as ruas as pessoas o anonimato
os bares os cinemas os museus
um dia vi-te e desde então madrid
se porventura tem ainda para mim sentido
é ser solidão que te rodeia a ti
Mas o preço que pago por te ter
é ter-te apenas quanto poder ver-te
e ao ver-te saber que vou deixar de ver-te
Sou muito pobre tenho só por mim
no meio destas ruas e do pão e dos jornais
este sol de Janeiro e alguns amigos mais
Mesmo agora te vejo e mesmo ao ver-te não te vejo
pois sei que dentro em pouco deixarei de ver-te
Eu aprendi a ver a minha infância
vim a saber mais tarde a importância desse verbo para os gregos
e penso que se bach hoje nascesse
em vez de ter composto aquele prelúdio e fuga em ré maior
que esta mesma tarde num concerto ouvi
teria concebido aqueles sweet hunters
que esta noite vi no cinema rosales
Vejo-te agora vi-te ontem e anteontem
E penso que se nunca a bem dizer te vejo
se fosse além de ver-te sem remédio te perdia
Mas eu dizia que te via aqui e acolá
e quando te não via dependia
do momento marcado para ver-te
Eu chegava primeiro e tinha de esperar-te
e antes de chegares já lá estavas
naquele preciso sítio combinado
onde sempre chegavas sempre tarde
ainda que antes mesmo de chegares lá estivesses
se ausente mais presente pela expectativa
por isso mais te via do que ao ter-te à minha frente
Mas sabia e sei que um dia não virás
que até duvidarei se tu estiveste onde estiveste
ou até se exististe ou se eu mesmo existi
pois na dúvida tenho a única certeza
Terá mesmo existido o sítio onde estivemos?
Aquela hora certa aquele lugar?
À força de o pensar penso que não
Na melhor das hipóteses estou longe
qualquer de nós terá talvez morrido
No fundo quem nos visse àquela hora
à saída do metro de serrano
sensivelmente em frente daquele bar
poderia pensar que éramos reais
pontos materiais de referência
como as árvores ou os candeeiros
Talvez pensasse que naqueles encontro
sem que talvez no fundo procurássemos
o encontro profundo com nós mesmos
haveria entre nós um verdadeiro encontro
como o que apenas temos nos encontros
que vemos entre os outros onde só afinal somos felizes
Isso era por exemplo o que me acontecia
quando há anos nas manhãs de roma
entre os pinheiros ainda indecisos
do meu perdido parque de villa borghese
eu via essa mulher e esse homem
que naqueles encontros pontuais
Decerto não seriam tão felizes como neles eu
pois a felicidade para nós possível
é sempre a que sonhamos que há nos outros
Até que certo dia não sei bem
Ou não passei por lá ou eles não foram
nunca mais foram nunca mais passei por lá
Passamos como tudo sem remédio passa
e um dia decerto mesmo duvidamos
dia não tão distante como nós pensamos
se estivemos ali se madrid existiu
Se portanto chegares tu primeiro porventura
alguma vez daqui a alguns anos junto de califórnia vinte e um
que não te admires se olhares e me não vires
Estarei longe talvez tenha envelhecido
Terei até talvez mesmo morrido
Não te deixes ficar sequer à minha espera
não telefones não marques o número
ele terá mudado a casa será outra
Nada penses ou faças vai-te embora
tu serás nessa altura jovem como agora
tu serás sempre a mesma fresca jovem pura
que alaga de luz todos os olhos
que exibe o sossego dos antigos templos
e que resiste ao tempo como a pedra
que vê passar os dias um por um
que contempla a sucessão de escuridão e luz
e assiste ao assalto pelo sol
daquele poder que pertencia à lua
que transfigura em luxo o próprio lixo
que tão de leve vive que nem dão por ela
as parcas implacáveis para os outros
que embora tudo mude nunca muda
ou se mudar que se não lembre de morrer
ou que enfim morra mas que não me desiluda
Dizia que ao chegar se olhares e não me vires
nada penses ou faças vai-te embora
eu não te faço falta e não tem sentido
esperares por quem talvez tenha morrido
ou nem sequer talvez tenha existido.


Ruy Belo


Foto de João Coutinho

quinta-feira, maio 15, 2008

Constatação




VLADIMIR O pior não é pensar.
ESTRAGON Talvez não. Mas pelo menos há isso.
VLADIMIR Isso o quê?
ESTRAGON É isso mesmo, vamos fazer perguntas um ao outro.
VLADIMIR O que é que queres dizer com pelo menos há isso?
ESTRAGON Pelo menos há menos miséria.
VLADIMIR É verdade.
ESTRAGON Bom e se déssemos graças à nossa felicidade?
VLADIMIR O que é terrível é ter pensado.


In À espera de Godot de Samuel Beckett


O único sentido íntimo das coisas é elas não terem sentido íntimo nenhum.

In Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro


Foto de João Coutinho

quarta-feira, abril 16, 2008

5 coisas 100 importância



Seguindo a recomendação do Carlos, venho aqui declarar cinco coisas sem importância:

- Sou canhota e, por isso, a faca de peixe não tem qualquer utilidade para mim.

- Não tenho sentido de orientação, portanto nunca sei de que lado está o mar.

- Ando em bicos de pés, quando uso saltos altos, para não fazer barulho.

- Não acendo as luzes, quando tenho que me levantar durante a noite.

- Perco-me em centros comerciais e até há bem pouco tempo não os frequentava sozinha ( só os pequeninos ).

- Gosto de pontes. As favoritas são: a de Ponte de Lima, porque me parece que é um bocado minha e a da Arrábida, porque tem só um arco e é branca.


Agora, tinha que fazer esta corrente prosseguir, mas não me apetece.


sábado, março 29, 2008

Resumo e conclusão



Quando pensava nela, ficava pasmado por ter deixado partir aquela rapariga com o seu violino. Agora, claro, percebia que a proposta abnegada que ela lhe fizera era irrelevante. Tudo de que ela precisava era da certeza do seu amor e de que ele lhe garantisse que não havia pressa, quando tinham a vida inteira pela frente. Amor e paciência...

In a Praia de Chesil de Ian McEwan


Foto de João Coutinho

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Pastelaria



Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos
frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra


Mário de Cesariny


terça-feira, fevereiro 12, 2008

Estou tão contentinha



Isto de trabalhar e ver o Douro ( e a minha ponte favorita* no cantinho da janela ) é uma coisa que nem se explica, mais ainda quando ouço a sineta do eléctrico a tocar à minha porta ou as horas na torre da igreja ao lado. Como diria a minha amiga chilena: estou tão contentinha! isto é tão entretenido!


Foto de João Coutinho

* segunda ponte favorita - a primeira está-se mesmo a ver onde é

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Numa praia qualquer



From the precise and intimate depiction of two young lovers eager to rise above the hurts and confusion of the past, to the touching story of how their unexpressed misunderstandings and fears shape the rest of their lives, On Chesil Beach is an extraordinary novel that brilliantly, movingly shows us how the entire course of a life can be changed – by a gesture not made or a word not spoken.

On Chesil Beach de Ian McEwan


Foto de João Coutinho

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Valentine



Não salvamos a nossa alma só por pintarmos tudo de branco.

Ettore Sottsass