segunda-feira, outubro 22, 2007

Bem-vinda à realidade



É uma grande aventura contemplar o universo para além do homem, pensar no que significa sem o homem - tal como foi durante a maior parte da sua longa história e tal como é na grande maioria dos lugares. Quando esta visão objectiva é finalmente alcançada, e o mistério e a majestade da matéria são apreciados, voltar a focar o olho objectivo no homem visto como matéria e ver a vida como parte de um mistério universal da maior profundidade é experimentar algo que raramente é descrito.
(...)
Estas visões cientificas resultam em fascínio e mistério, perdidos na fronteira da incerteza, mas parecem ser tão profundas e impressionantes que a teoria de que tudo está simplesmente arranjado como um palco para Deus ver o homem a lutar pelo bem e pelo mal parece ser inadequada.


Richard P. Feynman in O prazer da descoberta


Sempre suspeitei que estamos inevitável e fatalmente entregues a nós mesmos.


Foto de João Coutinho

quarta-feira, outubro 03, 2007

Sete vidas



Nunca soube o teu nome. Entraste numa tarde,
por engano, a perguntar se eu era outra pessoa -
um sol que de repente acrescentava cal aos muros,
um incêndio capaz de devorar o coração do mundo.

Não te menti; levantei-me e fui levar-te à porta certa
como um veleiro arrasta os sonhos para o mar; mas,
antes de te deixar, disse-te ainda que nessa tarde
bem teria gostado de chamar-me outra coisa - ou
de ser gato, para poder ter mais que uma vida.

Maria do Rosário Pedreira in Nenhum Nome Depois


Gostava de ter sete vidas. Não para morrer e renascer sete vezes, mas para as viver todas ao mesmo tempo. Agora mesmo.


Foto de João Coutinho