sexta-feira, outubro 27, 2006

Recomendação convicta

UMA VIAGEM AGRIDOCE POR ENTRE AS RUÍNAS DO PALÁCIO ASSOMBRADO DA RUA DAS FLORES numa dimensão temporal paralela.

Um performance melancólica, surpreendente e nostálgica.

Quanto vale um palácio antigo?
Quanto vale uma memória?
Quão necessárias são as relíquias?

Baseada na sátira " A Relíquia" de Eça de Queirós

Encenação de Lee Beagley

Co-produção Produções Suplementares e E.S.M.A.E.

PRODUÇÕES SUPLEMENTARES é uma companhia que trabalha fora dos espaços teatrais convencionais. A companhia trabalha preferencialmente em espaços alternativos preferindo edifícios não habitados, ruas ou barcos. É um projecto desenvolvido entre Porto e Gaia, envolvendo o encenador Lee Beagley em conjunto com actores, performers e designers formados pela E.S.M.A.E.



Mais informações aqui. Recomendo que reservem os bilhetes por telefone e que os levantem antecipadamente, pois o espectáculo começa a horas e quem se atrasar não entra. De resto, não farei nenhum comentário para além deste: não percam mesmo!

terça-feira, outubro 17, 2006

Não deixeis um grande amor



Aos poucos apercebi-me do modo
desolado incerto quase eventual
com que morava em minha casa

assim ele habitou cidades
desprovidas
ou os portos levantinos a que
se ligava apenas por saber
que nada ali o esperava

assim se reteve nos campos
dos ciganos sem nunca conseguir
ser um deles:
nas suas rixas insanas
nas danças de navalhas
na arte de domar a dor
chegou a ser o melhor
mas era ainda a criança perdida
que protesta inocência
dentro do escuro

não será por muito tempo
assim eu pensava
e pelas falésias já a solidão
dele vinha

não será por muito tempo
assim eu pensava
mas ele sorria e uma a uma
as evidências negava

por isso vos digo
não deixeis o vosso grande amor
refém dos mal-entendidos
do mundo

José Tolentino Mendonça in Longe Não Sabia


Nunca serei cativa do desinteresse. Mil vezes chorarei. Sim. Seguirei o grande amor até ao fim do mundo.


Foto de João Coutinho

quarta-feira, outubro 11, 2006

Todos os dias

Sobre a cama as metáforas
Parecem-me mais belas e
mais sublimes

uma carta,

o poder da língua que liberta os beijos e
as pálpebras em êxtase,
quando vem descendo em letra redonda e
a pertubar o meu sono

João Ricardo Lopes in a Pedra que chora como palavras


As metáforas mudas. Os pleonasmos tolos. As sinestesias inebriantes. A sinédoques cúmplices. As elipses mágicas.

Um balão de cristal com vinho tinto, o fim da tarde, a música baixinho, o granito molhado da rua, a mansarda no centro histórico. Nós.



Foto de João Coutinho

terça-feira, outubro 03, 2006

Regresso



Esta manhã o sol atravessou de repente
para o outro lado da rua - são tão sombrias

as casas quando delas se perde o nome de
alguém, tão escuros os corações dos que
ficam lá dentro para habitar a dor.


Maria do Rosário Pedreira in Nenhum Nome Depois


Acordo a sorrir de madrugada. Acordo a cada quinze minutos com o sino da torre que agora está aqui ao lado. Outra vez aqui ao lado. Voltei. A casa já não é a mesma, mas o lugar sou eu e sinto-me mais eu estes dias. Já não há salas com cantos escuros. O sol entrou, atravessou a rua e preencheu todos os espaços. É daqui que eu sou.


Foto de João Coutinho