Jóia preciosa
Vestida de branco
No neutro da vida
Para não destoar.
Água. Vento. Lua.
De cor incolor
Velho candeeiro
De esquina de rua
no fundo da dor.
Foto de Madness
Um lugar para brincar com palavras e ideias. Para partilhar. Para nunca esquecermos quem somos. O que sentimos. Para minimizar a mágoa de não podermos estar em vários sítios ao mesmo tempo. A corrida apressada da vida. A impossibilidade de conhecer tudo o que existe. A saudade já.
Jóia preciosa
Vestida de branco
No neutro da vida
Para não destoar.
Água. Vento. Lua.
De cor incolor
Velho candeeiro
De esquina de rua
no fundo da dor.
Foto de Madness
Terei que aprender
A viver com a espera
A colar na rotina
Um toque de magia
Procurando a força
Para te esperar
E seguir em frente
À procura do dia.
Foto de Rui Vale de Sousa
“ Todas as cidades são a minha cidade, à qual sempre regresso. Tudo é então diferente, pois conheço que é diferente. Os olhos abrem-se à minha cidade, sou de novo um estranho maravilhado, capaz de ver: de fazer ”
Também tenho os meus heróis. Admiro quem é capaz de desenhar uma ponte, quem faz os cálculos de ferro e betão para que se sustente, quem a constrói.
Deslumbra-me pensar que uma construção nasce do encontro entre um momento inspirado, um papel e um lápis.
Sonho por vezes estar dentro da cabeça de um arquitecto para perceber como é que ele vê o espaço, como o perspectiva, para poder depois encaixar no meio uma nova peça que faça sentido.
Álvaro Siza espanta-me. Por uma coisa que ele sabe eu não sei. Ele conhece os movimentos da luz ao longo do dia. Conhece-os profundamente.
Então, faz janelas ou fendas por onde a luz entra e incide num dado lugar no interior, rigorosamente pensado por ele.
É o que acontece na Igreja de Marco de Canavezes, onde cada abertura nas paredes permite à luz incidir sobre o altar. De diferentes formas à medida que o dia escorre. Este detalhe faz com que o espaço se torne especial, banhado de uma luminosidade filtrada, dirigida que lhe confere misticismo, encantamento.
A perfeição nascerá então do equilíbrio entre a natureza e o atento olhar humano?
Ondulam as vozes
Pelas ruas
As luzes giram giram
E ventos doces
Esvoaçam as saias
A cabeça anda à roda
E tudo ri à volta
Os braços abertos
Como nos filmes
A voltear sorrindo
Tu e a vertigem
Em mim.
Foto de António Pinto
Momentos de silêncio
E o tempo pára
Repousa em nós
A leveza da pluma
A brancura doce do algodão.
A brisa é morna e a água brilha
E à nossa volta tudo demora
Poderás dizer-me dos impossíveis
Do não saber o futuro
Mas o que importa?
O ar que nos cerca é tão leve
O encontro tão pleno
Que se forma uma aura.
E convidamos para a nossa mesa
Três passarinhos
Que tranquilamente se acomodaram.
Pedi um desejo. Já não me lembro bem qual foi. Não espero que os traços de fumo dos aviões no céu me concedam desejos. Gosto de sonhar. Mas os deuses não concretizam sonhos. Andam ocupados demais para se dedicarem às pequenas coisas que eu quero.
Ouvi dizer que algures em Itália, numa galeria chique de lojas e cafés, existe a imagem de um touro no chão e que, se se girar sobre ela - calcando os testículos do animal - isso trará sorte.
Se fosse a Itália, também colocaria lá o meu pé e daria a necessária volta completa da praxe. Não por acreditar que esse movimento iria trazer-me sorte, mas para me lembrar que estive lá e que - na pedra gasta de dois séculos - estava também presente o meu contributo para a sua erosão.
Isto para dizer que prefiro marcar a minha vida em vários momentos. Os sonhos de nada valem se não os agarrarmos antes de acordar.
O céu azul translúcido
Riscado por um traço branco
Metálico e difuso de fumo
Peço um desejo?
No horizonte um rosa suave
Na minha cabeça um pensamento recorrente
O carro a afastar-se depressa na auto-estrada
A mente vagabunda
A vaguear sem prazo nem caminho
Uma música numa língua sem terra
A preencher o espaço entre mim e a ideia
Um fim de tarde como outro qualquer
A regressar não sei bem para onde
E tu algures ausente
Pedi um desejo.
Foto de Rui Vale de Sousa