sexta-feira, agosto 06, 2004

Dia de Feira II


Voltando à feira. Hoje em dia já não há necessidade de comprar nada de especial por lá. As roupas são parecidas com as das lojas. As frutas e legumes são daqueles comunitários, todos do mesmo tamanho e com cara de serem de plástico, só para pôr na fruteira a decorar.

Mas ainda há uns truques para fazer a viagem no tempo. No areal, ainda há umas mulheres que fazem as “ carreiras “, ou seja, alinham-se numa filinha lado a lado, deixam cerca de um metro de largura e, em frente a elas, as outras fazem o mesmo. Forma-se então um corredor, onde colocam as “ mercadorias “ à sua frente no chão e as clientes circulam por ali.

Aí encontram-se galinhas com o pescoço bem vermelho que não devem ser fruto de ração ( picam no chão, talvez….), galos imponentes, maçãs bichosas, vermelhinhas, tortas, mas com um saber incrível, laranjas com a casca suja de preto, de uma substância que se forma nas laranjeiras. Enfim, tudo o que faria os gestores destas coisas da comunidade europeia deitarem as mãos à cabeça.

Agora nunca vou à feira, mas tenho saudades. Quando era pequenina, este era o programa habitual com a minha mãe. Embora não houvesse grande dinheiro para gastar, nós íamos sempre as duas passear por lá. Devia ser o equivalente ao actual passeio das famílias no Centro Comercial ao fim de semana.

Uma das coisas mais estranhas de que me lembro é de bradar aos céus de cómica e caricata. Embora eu fosse criança e ainda não existissem estas sofisticações dos dias de hoje, aquilo para mim era o cúmulo. Imagino que deveria ficar com a boca aberta até aos joelhos tal era o espanto que sentia dentro de mim. As mulheres das carreiras não se retiravam quando tinham vontade de fazer chichi! Era perfeitamente normal e ninguém manifestava surpresa se estivéssemos a negociar um par de frangos e de repente se ouvisse um barulho de água a cair e se formasse uma pocinha entre os dois pés da senhora!! Elas limitavam-se a separar um bocadinho as pernas e davam assim alivio ás suas necessidades básicas.

Claro que fosse o que fosse que estivesse a ser negociado nessa altura, acabava por ficar por lá, porque a mãe não concebia a ideia de levar para caso frangos ( ou o que fosse ) salpicados com tal tempero.

Foto de Rui Vale Sousa